Divagações pós "O Libertino":
A Morte
Luiza dos Passos Ferreira
Divaga-se sobre a morte. Que é a morte? É a questão humana, o momento de supremo amor-próprio da frágil vida que envolve esses seres sublimemente supérfluos.
Por que choram os humanos a morte de outros? Por mais odiado que tenha sido em vida, sempre há lágrimas para derramarem-se em virtude do morto; o mais déspota dos homens é lamentado como o melhor dos santos. Por quê? Sem dúvida, a lúgubre sombra da morte traz aos vivos a lembrança de que, um dia, também partirão. Choram, portanto, os vivos. Para que possam lembrar-se da sua finitude infinita.
Pensam os mortos na vida; pensam os vivos na morte. E choram ambos, a fugir das duas. Não são patéticas estas almas vazias de vida ou de morte? Buscando, sem cessar, perpetrar por todos os outros e tentando, sem sucesso, fugir da única certeza humana?
Choram! Os corvos choram seu próprio alimento, pois é a desgraça que mantém suas existências sem significado. Lamentam sua própria salvação em um ato de supremo egoísmo; descartam a sua humanidade e chafurdam ferozmente na sua auto-compaixão.
Pois o ser humano é individualista, e a morte é o ponto mais alto da sua vida. Muito embora lutem contra ela, foi na busca da morte que estiveram em toda a sua história.