Passado
Por Luiza dos Passos Ferreira
Este ar melancólico do anoitecer... O frio escuro que abraça a cidade, cheia de luzes... O inverno caiu, aqui, onde não me podes ver, ou ouvir. Minhas memórias de ti já são escassas, e não posso esconder minha ansiedade e tristeza quando penso no que foste para mim, e no que te tornaste.
A verdade é que já não mais sei invocar teu rosto, e ele pouco significa, embora a menção do teu nome seja assunto delicado. E, no entanto, já se vão quatro invernos desde aquele...
Nossas vidas estão irremediaelmente separadas: tu encontraste teu caminho e eu, o meu. Léguas e anos nos separam. Mudamos demais. Mudei demais.
Há quanto tempo não contemplas o desesperado céu de tua - de nossa - cidade natal? Quantos dias, semanas, meses se passaram, desde que aqui puseste teus pés pela última vez?
Tentando amenizar a dor de afastar-se de tudo, de tudo procuraste esquecer, bem o sei. Sei também que fui esquecida, conquanto não houvesse um único dia sem que de ti eu me recordasse.
Apesar de tudo, pude te superar - enfrentei, todos os dias, teu rosto. Olhei, temerosa, para a dor e o medo de jamais ter-te outra vez, até que pude aceitá-los de uma vez por todas.
Por que dizer tudo isso, afinal?
Ora, talvez porque tens povoado meus pensamentos com excessiva frequencia. Ou, talvez, para dizer-te que, de ti, restaram apenas os momentos: memórias estas que acalento com o amor que um dia senti por ti.