terça-feira, 29 de abril de 2008

Recomendo ler a história ouvindo o Bolero de Ravel.

A Imperatriz
Por Luiza dos Passos Ferreira

A mulher sentada em um trono, de olhar austero e finos gestos, por muito tempo encantou seu povo. Ela amava seu povo. Ela, a Imperatriz, zelava por todos aqueles que viviam em seu país. O imperador, seu pai, morrera há alguns anos; era um tirano. A filha o odiava - o povo o odiava. E logo que morreu o imperador, o povo suspirou aliviado. E a jovem moça, que dedicara sua juventude ao estudo da poesia, das flores e da espada, tomou o seu trono e o país e o povo para si.
Imperava ela com a sabedoria do próprio povo: e o país prosperava. A Imperatriz andava por entre o povo periodicamente; às vezes entrava em alguma justa, ou cantava em uma taberna qualquer. Era, de todas a criaturas do império, ela quem melhor brandia a espada - era ela a dona da mais doce voz e do mais belo rosto.
Certa feita, três reinos uniram-se contra o império dela: o primeiro invejava o povo feliz e próspero, e não podia aceitar que qualquer país fosse melhor que o seu. O segundo, desejoso de aumentar seus limites, vinha cobiçando todas as riquezas guardadas naquele império. E o terceiro, cheio de ódio, vingava-se da recusa que a Imperatriz apresentava-lhe sobre casamento. Ela amava seu povo - e nada mais.
A guerra e o caos tomaram conta daquele império, tão esquecido das amarguras. E a Imperatriz convocou seu exército, que jurou fidelidade. E ela jurou proteger seu povo com a vida.
O primeiro reino derrotou a si. A insistência doentia de seu soberano matou os soldados de fome.
O segundo foi derrotado pelo inverno e pela cegueira: certo de que teria o império nas mãos, o segundo soberano não refreou seus ataques, e morreu de frio.
O terceiro, vendo os dois aliados falharem, fez um sítio calmo e pensado à Imperatriz. Quando as provisões faltaram para o povo dela, ela convocou o exército uma vez mais.
Lutou em longa e sangrenta batalha: e quando afinal feriu o soberano do terceiro reino de forma irreversível, também foi gravemente ferida. Mas lutou até esgotarem-se suas forças e, antes de sua morte, pediu apenas:
- Meu deus, tome conta destes que amei...

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