sábado, 17 de julho de 2010

Tudo

Tu, que como um anjo vieste.
Tu, que como a vida brilhaste.
Tu, que como a morte partiste.
Tu, que a mim despedaçaste.

Pés no Chão

Presa como a esposa de Odisseu
Desesperada como o fogo a crepitar
Nem Gaia é tão terrena quanto eu
Quando as asas da Fênix ruflam em par

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Tristeza
Por Luiza dos Passos Ferreira

Chove contra o céu azul. Há, no verde do jardim, um brilho que se perdeu dos meus olhos...
Meus erros me atingiram desta maneira impiedosa com que nos atinge a vida, às vezes. As lágrimas pesam nos meus olhos secos. Estou cansada.
Não sei ao certo quando é que vou sorrir de novo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Aérea
Por Luiza dos Passos Ferreira

Nem as nuvens podem alcançar-me.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Encontre-me
Por Luiza dos Passos Ferreira

Perdida no labirinto das nossas memórias.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Foto
Por Luiza dos Passos Ferreira

De ti restaram as memórias. E esta foto.
Nada mais evidencia que um dia te conheci, ou que exististe, ou que passaste por minha vida; não passas de uma imagem.
Não passas desta foto que me encara todos os dias, de cada flor, de cada pontinho do céu, de cada onda, de cada pássaro.
Teu rosto está em todo o lugar, mas não sai desta foto. Na verdade, já não posso mais evocá-lo na minha memória. Posso ver-te apenas nesta foto, já antiga, meio amarelada pelo tempo, meio cansada destes anos que cansaram também meu coração.
Não tenho nada teu a que me agarrar. Uma pedra, um botão, um pedaço de pano, um bilhete, nada. Apenas esta foto. Só esta foto, em que nunca tocaste, e que talvez nunca tenhas visto.
Tua voz, de alguma maneira, é o que sobrou na minha memória. Lembro-me vagamente do pôr do sol, da tarde, do riso, dos gritos, da tua voz perto de mim. Lembro-me das nuvens no céu, e lembro das pedras no chão que eu conheci melhor que a palma da minha mão. Lembro-me do som dos sinos, lembro-me de um certo nervosismo incontido. Mas lembro-me, sobretudo e com perfeição, da sensação aérea e agradável que pairava sobre nós. Lembro-me enevoadamente de amar-te...
Tenho ainda hoje a impressão de que os anjos desceram à Terra, ou talvez nós tenhamos subido aos céus. Mas isto, por certo, é apenas esta minha imaginação fragilizada, deixada à revelia por tanto tempo, e tantas saudades, que acabaram por apagar-se...
Um dia também há de se apagar esta foto, esta única lembrança de ti a que posso agarrar-me. Guardá-la-ei enquanto me permitir o tempo. Guardá-la-ei como o mais precioso dos segredos, para que ela não se desgaste muito e viva sempre a aparecer nas minhas memórias quando eu menos esperar, e que me faça sorrir dos tempos em que acho que me amaste. Mas eu bem sei que o mais precioso dos segredos acaba por amarelecer, enquanto outros segredos vão-se sobrepondo... E esta foto, também, vai amarelar até... Até que de ti já não reste mais nada.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Sonho
Por Luiza dos Passos Ferreira

O céu está cinzento. O mundo gira em sua lentidão rápida demais e o tempo não perdoa os seres que caminham apressados em busca de um outro vazio que vá preencher os seus próprios. Todos olham para seus pés, cuidando apenas daquilo que podem alcançar. Os seres humanos ocupam-se de si mesmos.
Apenas um deles parece não ter aprendido a lição. Ele olha para os céus, sempre esperançoso, sempre esperando. Sabendo que, cavalgando nas nuvens, está o seu destino.
E é nas nuvens que se escondem os seres que fazem elevar os olhos dele. Ele não pode ver os belos seres aladose perfeitos desde a sua concepção, aqueles seres eternos como as ondas dos mares. Mas ele os pressente. E espera.
No entando, nenhum dos seres que cavalgam as nuvens pode ou quer vê-lo: ele é apenas mais uma das pequenas formigas que lá caminham. Ele não ousa visualizar ou tentar imaginar um destes seres magníficos. Mas, em seu coração, uma ideia de eterna leveza, um sopro de elevada pureza, um olhar de incontestável carinho vai-se formando. O coração dele é solitário, mas sabe esperar.
Até que, em um destes giros efêmeros e contínuos que este planeta insiste em dar, uma pequena nuvem separou-se das outras.
Não há nenhum ser alado nesta nuvem. E ele não pode vê-la; dorme na relva verde e fresca.
Seus sonhos vão tomando forma: cabelos curtos, mãos de dedos finos, pés delicados, corpo feminino e belo, asas da cor da lavanda, macias como o pelo de um gato.
Esta criatura alada percebe o mundo lá embaixo. Ele ainda dorme, e ela pode vê-lo. Ela desce devagar - também precisa preencher o seu vazio. Ela dança com o vento, canta com os pássaros, sorri com as flores.
E quando ela o toca, por um único instante, ele abre os olhos.
E tudo é azul, violeta, verde, vermelho, branco, rosado. O vento é brisa, o sol é luz visível, o calor é aconchego, o frio é alívio, e todas estas coisas são uma só. Por um único instante.
Mas este instante não é eterno.
Ela sente desvanecer. Ele sente que seu sonho e seu coração desaparecem.
Duas lágrimas caem dos céus, e ele já não está na relva nem na Terra, enquanto ela já não está nas nuvens nem no vento.
Mas completaram-se.

***

É, digamos, um presente de compensação, Petit Chat.